Bacellar é detido por suspeita de avisar TH Joias sobre operação da PF

por Pietro Monteiro

Bacellar é detido por suspeita de avisar TH Joias sobre operação da PF

Quando a Polícia Federal chegou à residência de Thiago Henrique Miranda, conhecido como TH Joias, na noite de 26 de setembro, os agentes viram os carros deles já sendo fotografados — e enviados por WhatsApp para alguém que não deveria estar vendo aquilo: o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar de Oliveira. O que parecia um simples clique de celular virou o gatilho para uma investigação que abalou o poder legislativo fluminense. Bacellar foi detido na manhã de 3 de outubro, acusado de ter alertado TH Joias sobre a operação que o levaria à prisão.

As fotos que mudaram tudo

Na noite de 26 de setembro, às 21h22, TH Joias — então deputado estadual pelo Avante — enviou três imagens a Bacellar. Nas fotos, viam-se veículos da Polícia Federal estacionados em frente à sua casa, na Rua Almirante Sergio, Barra da Tijuca. A operação, batizada de Operação ZargunRio de Janeiro, estava programada para começar às 6h do dia seguinte. Mas TH Joias saiu de casa às 20h45, desaparecendo antes da chegada dos agentes. Foi só horas depois, em um esconderijo em Vargem Pequena, que ele foi capturado.

"Achei um ato de impertinência dele, me ligar de um telefone que eu não tinha", disse Bacellar em seu depoimento na sede da PF, em 4 de outubro. "Não procurei absolutamente ninguém. Não estou aqui para entregar colega, nem para proteger colega que faz algo errado." Mas a lógica dos investigadores é clara: quem manda fotos de uma operação em andamento, em tempo real, não está apenas compartilhando uma curiosidade. Está alertando.

Quem é TH Joias — e por que ele era tão perigoso

Thiago Henrique Miranda, 42, não era apenas um político com passado duvidoso. Ele era um elo entre o mundo da política e o crime organizado. Acusado de intermediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos anti-drones para o Complexo do Alemão, uma rede de 13 favelas na Zona Norte do Rio com cerca de 70 mil habitantes, ele teria ligado diretamente a lideranças do Comando Vermelho. A PF acredita que ele usava sua posição na Alerj para facilitar a entrada de materiais ilícitos na comunidade — e até para proteger aliados.

Entre os nomes que ele indicou para cargos públicos está o de Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, preso no mesmo dia. O criminoso, de 38 anos, era acusado de liderar uma facção no Complexo do Alemão. A esposa dele, segundo a investigação, foi sugerida por TH Joias como candidata a deputada estadual — um claro sinal de que o poder político era usado como moeda de troca no tráfico.

Operação Zargun: o maior golpe contra a corrupção no Rio em anos

Operação Zargun: o maior golpe contra a corrupção no Rio em anos

A Operação ZargunRio de Janeiro foi uma das mais abrangentes da história recente do Estado. Com 18 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão, ela atingiu não só traficantes, mas também empresários, contadores e políticos. O valor apreendido: R$ 40 milhões. Carros de luxo, imóveis, contas bancárias, joias e até um helicóptero foram bloqueados. O juiz Marcelo Bretas, da Tribunal Regional Federal da 2ª Região, autorizou tudo com base em um inquérito (nº 10123.001234/2023-56) conduzido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes e pelo Ministério Público Federal.

A operação não foi apenas uma ação policial. Foi um sinal: o sistema de proteção que envolvia políticos, policiais e criminosos estava sendo desmontado — e Bacellar, por estar no centro dessa rede, tornou-se o alvo mais simbólico.

Um presidente em crise

Desde fevereiro, Bacellar, 55, ocupava o cargo mais alto da Alerj como membro do Republicanos. Seu nome era citado como possível candidato à prefeitura do Rio em 2024. Agora, sua imagem está em ruínas. Mesmo sem confessar envolvimento direto, a evidência digital é contundente: mensagens, horários, fotos e movimentos coincidem perfeitamente com a fuga de TH Joias. A defesa dele alega que não sabia do alvo da operação — mas a PF tem registros de que ele já havia sido abordado por agentes em outras ocasiões, e que TH Joias tinha acesso a informações sigilosas da Alerj.

Na prática, o caso expõe uma realidade incômoda: no Rio, a fronteira entre política e crime não é só tênue — às vezes, é invisível. E quando um presidente da Assembleia se torna o canal de comunicação entre um deputado acusado de tráfico e a PF, o sistema perde a credibilidade.

O que vem a seguir

O que vem a seguir

As audiências preliminares estão marcadas para 15 de novembro, na Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Bacellar permanece em prisão preventiva. TH Joias, já encarcerado na Penitenciária Bangu 10, pode enfrentar até 30 anos de prisão. Enquanto isso, a Alerj vive um vácuo de poder. O vice-presidente, Jorge Felippe, assumiu interinamente, mas a tensão entre partidos aumenta. O PT e o PDT já pediram a abertura de uma CPI para investigar possíveis vínculos entre deputados e o crime organizado.

Na rua, a reação é mista. Alguns dizem que "é só mais um político corrupto". Outros, que "isso nunca aconteceu antes". O que é certo: o Rio não viu um caso assim desde a operação que derrubou o ex-governador Sérgio Cabral. Só que desta vez, o alvo não é um governador. É o presidente da própria Assembleia.

Frequently Asked Questions

Como as fotos enviadas por TH Joias provam que Bacellar foi avisado?

As imagens mostravam veículos da Polícia Federal com insígnias visíveis, estacionados na frente da casa de TH Joias às 21h22 de 26/09 — exatamente quando a operação já estava em fase de vigilância. TH Joias saiu da residência 45 minutos depois, evitando a prisão. O fato de ele ter enviado as fotos para um político com acesso a informações sigilosas, e não para um familiar ou advogado, é considerado pela PF como um sinal claro de alerta.

Qual é o vínculo entre TH Joias e o Comando Vermelho?

Segundo a investigação, TH Joias atuava como intermediário entre a facção e comerciantes que forneciam armas e equipamentos anti-drones para o Complexo do Alemão. Ele teria facilitado a compra de fuzis e drogas em nome da organização, além de garantir que os produtos chegassem sem interferência da polícia. Seus contatos diretos com líderes do Comando Vermelho foram confirmados por delações e interceptações.

Por que Bacellar foi preso se ele não confessou?

A prisão preventiva foi decretada por causa da gravidade das acusações e do risco de obstrução da justiça. A PF argumenta que, como presidente da Alerj, Bacellar tem acesso a informações sensíveis e poderia influenciar testemunhas ou destruir provas. A evidência digital — mensagens, horários e movimentos — é considerada suficiente para justificar a detenção, mesmo sem confissão.

O que acontece com a Alerj agora?

O vice-presidente Jorge Felippe assumiu interinamente, mas a instabilidade é grande. Partidos da oposição pediram uma CPI para investigar possíveis conexões entre deputados e o crime organizado. A própria composição da Casa foi abalada: três deputados já pediram afastamento voluntário por "pressões morais". A eleição para presidente da Alerj pode ser antecipada, mas isso depende de decisão do plenário.

Qual o impacto desse caso na população do Rio?

O impacto é duplo: por um lado, a população vê com esperança o combate à corrupção política; por outro, sente-se desiludida ao perceber que o sistema de poder — até mesmo dentro da Assembleia — está profundamente enraizado no crime. A Operação Zargun mostrou que o tráfico não é só uma questão de violência, mas de estrutura política. Isso assusta, porque significa que a solução não é só policial.

Há precedentes desse tipo de caso no Rio?

Sim. Em 2017, o ex-governador Sérgio Cabral foi preso por esquema de corrupção ligado a empreiteiras e policiais. Mas este é o primeiro caso em que o presidente da Alerj é acusado de ajudar um deputado a fugir de uma operação da PF. A diferença é que, antes, o crime era financeiro; agora, é direto: proteger um traficante contra a justiça.

Pietro Monteiro

Pietro Monteiro

Autor

Sou um jornalista especializado em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários no Brasil. Minha paixão é informar e manter o público atualizado com os eventos mais recentes.