Djokovic deixa Sérvia e muda-se para a Grécia após ser taxado de "traidor"

por Pietro Monteiro

Djokovic deixa Sérvia e muda-se para a Grécia após ser taxado de "traidor"

Quando Novak Djokovic, tenista anunciou que sua família teria residência permanente nos subúrbios de Atenas, a reação do governo sérvio foi imediata: o presidente Aleksandar Vučić o acusou publicamente de ser "traidor". A mudança, efetivada em setembro de 2025, vem depois de meses de tensão política ligados ao apoio de Djokovic aos protestos estudantis que surgiram em novembro de 2024.

Contexto político e protestos na Sérvia

O estopim dos movimentos foi o desabamento da cobertura da estação ferroviária de Novi Sad em 12 de novembro de 2024, que deixou 15 mortos segundo relatos oficiais e 16 segundo fontes independentes. O desastre expôs graves falhas de corrupção e negligência nas obras públicas, desencadeando uma onda de manifestações lideradas por estudantes universitários.

Desde então, milhares de jovens ocupam praças e campi, pedindo a responsabilização dos culpados, a divulgação de documentos secretos e a convocação de eleições antecipadas. As ruas de Belgrado, Niš e outras cidades têm sido palco de confrontos com a polícia, que tem usado gás lacrimogêneo e balas de borracha. O clima de repressão fez com que figuras públicas que demonstraram solidariedade fossem alvos de retórica agressiva.

Foi nesse cenário que os protestos estudantis sérvios ganharam ainda mais visibilidade internacional, atraindo a atenção de mídia ocidental e organizações de direitos humanos.

Decisão de mudar de residência

Em 7 de setembro de 2025, Djokovic postou nas redes sociais um vídeo em que aparece vestindo um moletom com a frase "Estudantes são campeões". Na legenda, escreveu: "Como alguém que acredita profundamente no poder da juventude e em seu desejo por um futuro melhor, acredito que é importante que suas vozes sejam ouvidas". O discurso gerou forte reação da mídia estatal sérvia, que o rotulou de "inimigo do Estado".

Dois dias depois, o tenista foi visto no Kavouri Tennis Club, jogando tênis com seu filho Stefan, de 11 anos. "É a única coisa que me faz sentir normal", confidenciou Djokovic ao ser questionado pelos repórteres presentes.

Ao mesmo tempo, seus filhos Stefan e Tara, de 11 e 8 anos respectivamente, foram matriculados na Saint Lawrence College, em Atenas, cujo semestre iniciou-se em 9 de setembro de 2025. "Queremos que eles cresçam em um ambiente estável, longe da tensão que vivemos em Belgrado", afirmou o atleta.

Impacto no circuito de tênis e o ATP 250 de Atenas

Além da mudança pessoal, a decisão de Djokovic tem repercussões no calendário da ATP. O torneio ATP 250 que ele organizava em Belgrado será transferido para a OAKA Basketball Arena, em Atenas, e acontecerá entre 2 e 8 de novembro de 2025. "Será uma nova era para o tênis europeu, e acreditamos que Atenas oferece a infraestrutura necessária", explicou Djordje Djokovic, irmão de Novak e diretor do evento.

O torneio, já confirmado pela ATP, deve atrair nomes como o brasileiro João Fonseca, atualmente 43.º no ranking mundial. "É uma oportunidade única de jogar contra o melhor em um cenário diferente", comentou Fonseca.

Para o próprio Novak, a mudança representa também um gesto estratégico. Ainda na 5ª posição do ranking da ATP, ele busca recuperar a rotina de treinos em clima mediterrâneo e reduzir o desgaste de viagens frequentes para a Europa Oriental. "A situação política está afetando minha concentração. Aqui sinto que posso focar no tênis novamente", declarou o tenista em entrevista ao canal grego Nova Sports.

Reações e perspectivas futuras

Reações e perspectivas futuras

O presidente Vučić, em coletiva na capital sérvia, manteve a postura crítica: "Não toleraremos que figuras públicas usem sua influência para incitar a desordem. Se Djokovic escolheu deixar o país, que assim seja, mas não será bem-vindo de volta enquanto persistir esse movimento de subversão".

Especialistas em política dos Balcãs veem a partida como um sintoma de um clima cada vez mais autoritário. "Quando atletas de alto nível são perseguidos por suas ideias, isso indica que o governo está perdendo espaço para o diálogo", apontou a analista Ana Petrović, da Universidade de Belgrado.

Por outro lado, a comunidade de exilados sérvios na Grécia celebrou a chegada do lutador como um reforço ao perfil internacional do país. "É mais do que um atleta, é um símbolo de liberdade de expressão", disse o presidente da Associação Sérvia de Atenas, Marcos Iliadis.

Com a estreia do ATP 250 de Atenas, espera‑se que a mídia internacional cubra não só o nível esportivo, mas também a narrativa política por trás da mudança. "O torneio será um palco onde esportes e política se encontrarão de forma inevitável", prevê o comentarista esportivo Đorđe Petrović.

Perguntas Frequentes

Por que Novak Djokovic decidiu deixar a Sérvia?

Djokovic alegou que a crescente hostilidade do governo, após seu apoio público aos protestos estudantis, comprometia a segurança e o bem‑estar de sua família. A mudança para Atenas foi vista como forma de garantir estabilidade para seus filhos e retomar o foco no tênis.

Como a transferência do ATP 250 de Belgrado para Atenas afeta o calendário da ATP?

O torneio, agora programado para 2 a 8 de novembro de 2025 na OAKA Basketball Arena, mantém seu status de ATP 250, mas altera a logística de deslocamento dos jogadores europeus. A mudança pode atrair mais participantes devido à infraestrutura grega e ao clima mais ameno.

Qual o impacto dos protestos estudantis na política sérvia?

Desde o desabamento da estação de Novi Sad, as manifestações ampliaram-se, exigindo transparência e eleições antecipadas. Embora o governo tenha respondido com repressão, a participação de figuras públicas como Djokovic intensificou o debate interno e chamou atenção internacional.

Quem são os principais concorrentes de Djokovic no ATP 250 de Atenas?

Entre os inscritos estão o brasileiro João Fonseca (43.º no ranking), o italiano Lorenzo Musetti (22.º) e o alemão Alexander Zverev, que busca recuperar forma após lesão. A carta‑preta de Djokovic ainda o coloca como grande favorito.

O que o governo sérvio declarou oficialmente sobre a saída de Djokovic?

Em coletiva, o presidente Aleksandar Vučić classificou Djokovic de "traidor" e afirmou que a Sérvia não tolerará uso da fama para incitar desordem. Não houve convite formal para o atleta retornar enquanto persistirem as manifestações.

Pietro Monteiro

Pietro Monteiro

Autor

Sou um jornalista especializado em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários no Brasil. Minha paixão é informar e manter o público atualizado com os eventos mais recentes.

Comentários
  1. Willian Yoshio

    Willian Yoshio, outubro 8, 2025

    A mudança do Djokovic pra Grécia realmente tira a pressão da família dele, mas não reslve tudo.

  2. Rachel Danger W

    Rachel Danger W, outubro 11, 2025

    É nítido que o governo sérvio está usando o caso do Djokovic como cortina de fumaça para desviar a atenção da corrupção enraizada! Cada passo dele parece orquestrado por forças que não querem que a verdade chegue ao povo. A gente sente a energia dos estudantes, e o tenista virou símbolo de resistência contra um regime que tem medo de perder o controle. É triste ver como a mídia oficial tenta pintar um herói como traidor, enquanto os verdadeiros traidores escondem seus segredos nos corredores do poder. No fim, a história vai lembrar quem realmente lutou pela liberdade.

  3. Davi Ferreira

    Davi Ferreira, outubro 15, 2025

    Ver o Djokovic buscar um ambiente mais tranquilo para treinar é inspirador, mostra que mesmo sob pressão podemos procurar o bem‑estar da família. A mudança para Atenas pode trazer uma nova energia ao circuito europeu e motivar outros atletas a priorizarem a saúde mental. Que esse recomeço sirva de exemplo para quem enfrenta adversidades políticas e pessoais. Força para a família Djokovic e que o tênis continue brilhando!

  4. Marcelo Monteiro

    Marcelo Monteiro, outubro 18, 2025

    Ah, claro, porque a resposta de um governo a um atleta nunca tem nada a ver com a necessidade de manter a ordem pública, não é mesmo? É óbvio que a acusação de traição serve apenas para criar um clima de medo entre os cidadãos, mas quem se importa com isso quando se tem um espetáculo de grandiosidade como um torneio de tênis em jogo. O fato de o Djokovic apoiar protestos estudantis é, sem dúvida, a única razão pela qual o presidente decidiu rotulá‑lo de traidor, como se isso fosse algo novo em regimes que não toleram dissidência. Não há nada mais verdadeiro do que dizer que movimentos estudantis são manipulados por celebridades em busca de atenção, mas a realidade é bem mais simples. A Grécia, naquele caso, não é apenas um refúgio climático, mas um palco político onde o atleta pode continuar seu show sem a interferência de discursos autoritários. Enquanto alguns acreditam que a mudança de residência é apenas uma jogada estratégica, outros enxergam uma fuga digna de uma novela de época. De fato, a mídia sérvia adora transformar cada ação em uma conspiração monumental, mas estamos aqui para lembrar que o esporte sempre foi um campo neutro… até que alguém decide usá‑lo como ferramenta de protesto. A narrativa de traição serve perfeitamente ao governo que precisa desviar o olhar do colapso da estação de Novi Sad. É quase poético como cada detalhe parece encaixar no roteiro de um drama estatal. A verdade, no entanto, permanece simples: um atleta quer apenas segurança para sua família e concentração no treinamento. Se a política se intromete, talvez seja porque a própria política já começou a se intrometer no esporte. Portanto, podemos concluir que a acusação de traição não passa de um truque barato para legitimar a repressão. No fim das contas, o que importa é que o Djokovic encontrou um lugar onde pode jogar em paz, e isso, meus caros, já deveria ser suficiente. Não há necessidade de transformar cada decisão pessoal em um símbolo de resistência ou de opressão. Agradecemos ao tenista por nos lembrar que, às vezes, mudar de país é apenas uma questão de logística e qualidade de vida.

  5. Jeferson Kersten

    Jeferson Kersten, outubro 22, 2025

    É lamentável observar como a retórica do governo sérvio recorre a rótulos simplistas como “traidor” para silenciar vozes dissidentes. A decisão de Novak Djokovic de mudar-se para a Grécia revela, antes de tudo, uma necessidade legítima de segurança para sua família, algo que deveria ser respeitado por qualquer Estado civilizado. Enquanto a mídia estatal exagera a suposta ameaça, o atleta permanece focado em sua carreira, demonstrando profissionalismo. As denúncias de corrupção no país são, sem dúvida, graves, mas transformar um tenista em bode expiatório não contribui para a solução dos problemas estruturais. Em síntese, a política de intimidação serve apenas para reforçar a percepção de autoritarismo, ao passo que a comunidade esportiva busca estabilidade.

  6. João Paulo Jota

    João Paulo Jota, outubro 25, 2025

    É claro que todo esse alvoroço em torno da mudança do Djokovic é apenas mais um capítulo da grande ópera da esquerda, que adora pintar tudo de vermelho só para ganhar atenção. Se o governo realmente se preocupa com a soberania, deveria focar nos verdadeiros traidores – os engenheiros irresponsáveis que provocaram o colapso da estação de Novi Sad, não um tenista que ousou usar sua voz. Mas, obviamente, a imprensa oficial prefere criar monstros políticos ao invés de apontar falhas concretas. Assim, a narrativa do “traidor” serve como distração conveniente para quem realmente tem as mãos sujas.

  7. Ana Lavínia

    Ana Lavínia, outubro 28, 2025

    Não é nenhuma surpresa que a situação na Sérvia se torne ainda mais tensa; o governo tem usado a figura do Djokovic como bode expiatório, enquanto os verdadeiros problemas estruturais permanecem ocultos. A mudança para a Grécia, porém, pode ser vista como uma oportunidade de recomeço para a família; porém, também levanta questões sobre a influência do esporte na política. Em última análise tudo depende da vontade do povo.

  8. Joseph Dahunsi

    Joseph Dahunsi, novembro 1, 2025

    Concordo totalmente, a situação tá meio caótica mesmo : ) a mudança do Djokovic parece até um filme de ação com consequências reais e ele só quer um lugar seguro pra jogar e cuidar dos filhotes. Mas não dá pra negar que o esporte tem poder de chamar atenção pro que tá errado e isso pode ajudar, né? Só espero que a gente veja menos drama e mais jogos bons.

  9. Marcus S.

    Marcus S., novembro 4, 2025

    É imperativo reconhecer que a tentativa do governo sérvio de demonizar Novak Djokovic constitui uma violação flagrante dos princípios basilares da liberdade de expressão. Tal estratégia intimidatória não apenas subverte o Estado de Direito, mas também evidencia a fragilidade institucional diante de críticas legítimas. A comunidade internacional deve condenar veementemente esse comportamento e exigir a restauração de condições que permitam ao atleta exercer seus direitos civis sem retaliações. De outra parte, a transferência do ATP 250 para Atenas representa um relato de como a política pode influenciar decisões esportivas, reforçando a necessidade de separar esportes de agendas partidárias. Em síntese, a proteção das liberdades individuais deve prevalecer sobre qualquer pretensão autoritária.

  10. Jose Ángel Lima Zamora

    Jose Ángel Lima Zamora, novembro 8, 2025

    Concordo plenamente com a avaliação apresentada, pois a dignidade humana não pode ser sacrificada em nome de interesses políticos. O respeito ao indivíduo, inclusive a figuras públicas, deve ser incondicional, sob pena de corroer a confiança social nas instituições. É necessário que organismos internacionais reforcem mecanismos de proteção para que episódios como este não se repitam. Assim, a integridade do esporte e dos direitos civis será preservada.

  11. Debora Sequino

    Debora Sequino, novembro 11, 2025

    Ah, então agora o mundo inteiro fica apreensivo por causa de um tenista que simplesmente mudou de endereço?!? É como se a Grécia fosse o novo epicentro de todas as crises globais; quem diria que um número de ranking poderia causar tanto alvoroço!!! Mas, francamente, parece que estamos todos desesperados por qualquer motivo para dramatizar ainda mais a situação…

  12. Benjamin Ferreira

    Benjamin Ferreira, novembro 15, 2025

    Tal como os antigos filósofos gregos ensinavam, a mudança de domicílio pode ser vista como uma metáfora da busca interior por equilíbrio entre o corpo e a mente; o deslocamento de Djokovic para Atenas simboliza, talvez, a transição de um estado de turbulência para um espaço de serenidade. Enquanto alguns interpretam esse ato como mera logística, outros reconhecem nele a representação de um percurso existencial onde o atleta transcende as barreiras impostas pelo poder político. Assim, o torneio que se estabelecerá em solo grego pode servir de palco não só para confrontos atléticos, mas também para reflexões sobre a natureza da liberdade individual em tempos de opressão.

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