NSA invade e-mails de Calderón e Peña Nieto e gera crise diplomática

por Pietro Monteiro

NSA invade e-mails de Calderón e Peña Nieto e gera crise diplomática

Quando National Security Agency (NSA) invadiu as contas de e‑mail de Felipe Calderón, ex‑presidente do México e de Enrique Peña Nieto, o que estava prestes a mudar o panorama das relações bilaterais, o mundo inteiro ficou de orelha em pé. A revelação, baseada em documentos classificados vazados por Edward Snowden e publicados na Der Spiegel em 20 de outubro de 2013, mostrou que a divisão "Tailored Access Operations" (TAO) conduziu a Operação “Flat liquid”México com sucesso. A espionagem não foi um incidente isolado, mas parte de um programa de vigilância sistêmica contra o governo Mexicano que se estendeu até 2012, quando mensagens de texto de Peña Nieto – antes de sua eleição – foram interceptadas.

Antecedentes da vigilância americana

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA mantêm um complexo de coleta de dados que inclui satélites, escutas telefônicas e, cada vez mais, ataques cibernéticos a infraestruturas críticas de nações aliadas. O México, apesar de ser parceiro estratégico na luta contra o tráfico de drogas, sempre foi visto como "fonte lucrativa de inteligência" pela comunidade de inteligência americana. O relatório secreto da NSA descreve o gabinete presidencial como "um alvo de grande valor diplomático, econômico e de liderança".

Em maio de 2010, a TAO anunciou “mission accomplished” ao explorar vulnerabilidades em um servidor de e‑mail do domínio da Presidência, obtendo acesso ao que o próprio documento chama de "primeiro acesso ao e‑mail público do presidente Calderón". Não foram apenas mensagens de caráter pessoal; documentos internos, acordos bilaterais e até rascunhos de políticas públicas passaram pelos dedos dos analistas americanos.

Detalhes da operação ‘Flat liquid’

O nome codificado, "Flat liquid", pode soar enigmático, mas reflete a estratégia da TAO de infiltrar sistemas que supostamente já estavam “molhados” – ou seja, vulneráveis – e então “planear” as informações. A operação utilizou um exploit zero‑day que permitiu a instalação de um backdoor no servidor de e‑mail da Presidência, possibilitando a leitura de mensagens em tempo real.

  • Data do primeiro acesso: 15 de maio de 2010.
  • Quantidade de mensagens interceptadas de Peña Nieto até junho de 2012: 85.489 mensagens de texto, incluindo mensagens enviadas por ele e por assessores.
  • Ferramentas empregadas: malware de coleta de dados capaz de “encontrar uma agulha no palheiro” de forma repetível.
  • Alvos secundários: membros do gabinete de Calderón, embaixadores e executivos de empresas multinacionais ligadas ao Brasil e à Argentina.

O relatório destaca que a operação esteve ativa até o final da campanha presidencial de 2012, levantando dúvidas sobre a possibilidade de influenciar decisões de política interna.

Reações do governo mexicano

Reações do governo mexicano

A Secretaría de Relaciones Exteriores respondeu com forte condenação, descrevendo a prática como "inaceitável, ilegítima e contrária ao direito mexicano e ao direito internacional". Em comunicado oficial, o órgão informou que enviaria uma nota diplomática ao governo dos Estados Unidos, requisitando explicações e a garantia de que tal prática não se repetiria.

O presidente então no cargo, Barack Obama, havia prometido, em reunião com Peña Nieto, conduzir uma investigação exaustiva sobre as atividades da NSA. No entanto, até o momento da publicação dos documentos, nenhuma conclusão pública havia sido divulgada.

Felipe Calderón, atualmente professor na Kennedy School da Universidade de Harvard, não respondeu imediatamente a pedidos de entrevista. Já um porta‑voz de Peña Nieto resumiu a posição oficial dizendo: "É tudo que o governo tem a dizer sobre o assunto".

Implicações diplomáticas e jurídicas

Além da clara violação de princípios de soberania, a espionagem coloca em xeque acordos bilaterais de cooperação em segurança e combate ao narcotráfico. Analistas de direito internacional apontam que o caso pode ser levado ao Tribunal Internacional de Justiça, caso o México decida seguir por essa via.

Do ponto de vista interno, a revelação alimentou debates sobre a necessidade de reforçar a cibersegurança das instituições governamentais mexicanas. O Instituto Nacional de Transparência, Acesso à Informação e Proteção de Dados Pessoais (INAI) já começou a revisar protocolos de autenticação e criptografia de e‑mail.

Próximos passos e perspectivas

Próximos passos e perspectivas

O que vem pela frente? Primeiro, a demanda mexicana por esclarecimentos detalhados e, possivelmente, por indenizações. Segundo, o Congresso dos EUA pode enfrentar pressão para revisar as práticas de vigilância da NSA, especialmente à luz de outras revelações recentes (por exemplo, a espionagem contra a líder da oposição alemã).

Para o México, o foco imediato será restaurar a confiança tanto no governo quanto nas relações com o vizinho do norte. Investimentos em infraestrutura de TI, parcerias com empresas de cibersegurança latino‑americanas e um plano de comunicação transparente serão essenciais.

Perguntas Frequentes

Como a espionagem da NSA afetou a relação México‑Estados Unidos?

A confiança entre os dois países foi abalada; o México enviou nota diplomática exigindo explicações, e há risco de retomar negociações de segurança com maior cautela.

Quais documentos comprovaram a invasão dos e‑mails?

Relatórios classificados da NSA vazados por Edward Snowden, publicados na Der Spiegel, detalham a "Operação Flat liquid" e listam números precisos de mensagens interceptadas.

Quantas mensagens foram interceptadas de Enrique Peña Nieto?

O relatório indica 85.489 mensagens de texto, incluindo comunicações pessoais e de assessores, coletadas entre 2010 e junho de 2012.

O que o governo mexicano está fazendo para melhorar a segurança cibernética?

O INAI iniciou revisão de protocolos de criptografia, enquanto o gabinete planeja investimentos em plataformas de e‑mail seguras e treinamento de pessoal.

Existe possibilidade de processos legais contra a NSA?

Especialistas apontam que o México poderia levar o caso ao Tribunal Internacional de Justiça, alegando violação do direito internacional e da soberania nacional.

Pietro Monteiro

Pietro Monteiro

Autor

Sou um jornalista especializado em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários no Brasil. Minha paixão é informar e manter o público atualizado com os eventos mais recentes.

Comentários
  1. Ana Lavínia

    Ana Lavínia, outubro 6, 2025

    O que muitos ignoram é que a NSA não começou a mirar o México em 2010, mas já havia tentativas preliminares desde o início da década passada, quando os protocolos de autenticação ainda eram frágeis; e isso só foi revelado pelos documentos vazados pelo Snowden, que mostraram a extensão da operação “Flat liquid”. A parceria entre os dois países em combate ao narcotráfico foi usada como fachada para justificar uma coleta massiva de dados, o que claramente infringe o princípio da soberania nacional!

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