por Pietro Monteiro
Em meio ao turbilhão nos bastidores do futebol brasileiro, o presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians voltou atrás em declarações polêmicas sobre o Flamengo. Ele admitiu falha ao se expressar sobre a relação entre os dois clubes e afirmou que "não me expressei bem"—um reconhecimento raro em dirigentes deste nível, onde cada palavra pode virar combustível para rivalidade.
Tudo começou após reuniões acaloradas ligadas ao movimento de reformas do futebol brasileiro. No começo de agosto, parte da diretoria e conselheiros franziu a testa ao ouvir falas que, segundo fontes internas, sugeriam um distanciamento e até desconfiança em relação ao Flamengo bem no meio de um esforço de unificação entre os clubes. Os comentários repercutiram mal, principalmente porque Flamengo e Corinthians são figuras centrais no processo de mudança de cenário da CBF. Ninguém quer parecer estar puxando para trás quando a pauta é virar a mesa do futebol nacional.
O presidente reconheceu publicamente o erro, dizendo que as discussões internas se tornaram públicas e foram interpretadas de forma a prejudicar a confiança entre clubes que vinham caminhando juntos no movimento Libra e Liga Forte União (LFU). No pronunciamento, ele destacou: “A gente aprende na vida, pode mudar de ideia”. A declaração humanizou o dirigente, mostrou certa humildade e ainda funcionou como freio preventivo para impedir que as conversas fossem parar em críticas mais pesadas.
Vale lembrar que Corinthians e Flamengo estiveram lado a lado em 17 de maio deste ano ao assinarem, junto com outros 30 times, uma nota conjunta de repúdio à falta de transparência e liderança da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Nesse documento, os clubes apoiaram Reinaldo Carneiro Bastos para presidente da entidade e exigiram protagonismo dos clubes nas discussões sobre o calendário, direitos de transmissão e formato de competições.
Para os que acompanham o dia a dia dos bastidores, o episódio mostra como o processo de negociação é delicado. Circula pelo mercado que dirigentes têm lidado com muita desconfiança e egos inflados. A simples frase fora de contexto desperta insegurança sobre a real intenção dos parceiros dentro das novas ligas.
O presidente fez questão de reafirmar o compromisso do Corinthians com a busca por um futebol mais justo e transparente, destacando a importância de não deixar que pequenas crises internas virem obstáculos para um acordo maior. "O futuro do futebol brasileiro é inegociável para nós. E estaremos todos juntos, em campo, apoiando e cobrando um processo responsável”, garantiu no pronunciamento.
Pegou também no ponto que mais agrada as torcidas: a ideia de que outros interesses, especialmente rivalidades clubísticas, não estão acima da necessidade de uma estrutura mais equilibrada para o futebol nacional. Por trás das desculpas foi um recado para os adversários e até para a própria torcida do Corinthians: união e foco no interesse coletivo estão acima de vaidades.
Enquanto o assunto segue rendendo nas redes sociais, fica claro como episódios assim escancaram o fio tênue entre união e disputa política nos bastidores. Se por um lado mostram a fragilidade dessas alianças, por outro também evidenciam uma possibilidade real de evolução: dirigentes admitindo erros e chamando o debate para dentro do campo—onde todos os clubes precisam jogar do mesmo lado para que haja mudança de verdade.