por Gustavo Almeida
Em um desenvolvimento inesperado, a Comissão Real de Cinema da Jordânia, conhecida como RFC, decidiu retirar o documentário 'My Sweet Land' da disputa ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. Essa decisão foi tomada em meio a pressões diplomáticas significativas, conforme revelado por fontes próximas ao caso. O documentário, dirigido por Sareen Hairabedian e produzido por Azza Hourani, oferece um olhar profundo e emotivo sobre a vida de Vrej, um menino armênio de 11 anos deslocado do enclave de Artsakh, local frequentemente marcado por conflitos entre Armênia e Azerbaijão.
A decisão da RFC segue uma série de pressões políticas da parte do Azerbaijão, que expressou descontentamento com a seleção do filme. Fontes revelaram que a retirada foi diretamente influenciada pelo Ministério das Relações Exteriores da Jordânia, em resposta a reclamações formais apresentadas pela embaixada do Azerbaijão. Cabe ressaltar que a RFC havia apoiado fortemente o filme desde o início, inclusive fornecendo financiamento através de sua iniciativa Jordan Film Fund em 2021.
'My Sweet Land' teve uma estreia internacional notável no Sheffield DocFest, no Reino Unido, antes de ser projetado na Jordânia durante o Festival Internacional de Cinema de Amã, produzido pela RFC. No festival, o documentário foi agraciado com três prêmios, demonstrando seu impacto e relevância artística. No entanto, a seleção do filme para representar a Jordânia no Oscar despertou críticas ferozes por parte dos veículos de mídia do Azerbaijão, que acusaram a produção de ser uma peça de propaganda contra o país, alegando que o filme prejudicava a integridade territorial e a soberania do Azerbaijão.
Em um desdobramento positivo para a obra, embora 'My Sweet Land' tenha perdido sua chance de disputar como Melhor Filme Internacional, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos aprovou sua qualificação para concorrer na categoria de Melhor Documentário. O filme estreará no Laemmle Theatres em Los Angeles, à qualificação para a categoria mencionada, com estreia marcada para 29 de novembro. Sareen Hairabedian expressou sua gratidão pela oportunidade e destacou a importância de contar a história de Vrej, que segundo ela, espelha a de inúmeras crianças cujas vidas foram devastadas por conflitos e guerras.
A narrativa de 'My Sweet Land' não só traz à tona questões universais sobre o impacto do conflito em crianças, mas também serve de espelho para os desafios enfrentados pelos próprios cineastas na luta por liberdade de expressão. A presença do filme no festival DOC NYC em Nova York, onde deverá ser exibido, será acompanhada de uma sessão de perguntas e respostas com a presença dos cineastas. Hairabedian e Hourani enfatizam as similaridades entre os obstáculos enfrentados durante a produção e exibição do filme, e as histórias reais de resistência e sobrevivência contidas nele.
Essa situação levanta questões importantes sobre o papel da política nas artes e como histórias potentes e necessárias podem ser silenciadas devido a tensões geopolíticas. A retirada de 'My Sweet Land' das indicações ao Oscar pela Jordânia não é apenas um reflexo da complexidade política global, mas também um lembrete da força e resistência dos artistas que continuam a contar histórias que desafiam as convenções e promovem empatia e compreensão.
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